quarta-feira, 18 de abril de 2012

Oxalá

Sou feliz por você ter feito parte da minha vida, pelo amor que senti e por tudo que aprendi sobre mim mesma e sobre a possibilidade de ser escandalosamente feliz. Mas devo assumir que não te amo mais. Durante muito tempo senti muita falta de você, mas não de você quando partiu, mas de você-promessa. Daquele que você teria sido se continuasse lutando como prometeu. Aquele que admirei, que me encantou, com quem sonhei, por quem me apaixonei. Não o cara que já tinha desistido da luta há algum tempo e que encontrou na morte a desistência definitiva. Sim o cara que poderia ter sido se tivesse ficado e lutado. Mas não foi esta a sua escolha. Te amo como pessoa, porque você foi e é potencialmente tudo que poderia ter sido, porque já tinha sido. Mas não te amo como mulher. O que poderia ter sido não foi. E o que não foi não é. E o que foi eu não amo. E o que eu amo não é, não existe. Se você continuar existindo em algum lugar, e eu espero que sim pela riqueza do universo, te quero bem e forte. Mas seu caminho não é mais junto ao meu. O que não foi não é. E o que é, é. E o que pode vir a ser pode ser lindo. Oxalá.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Ser humano

A morte é a única certeza que temos sobre a vida e todavia parecemos incapazes de aceitá-la.
Ainda me pergunto o que é mais inquietante: nossa capacidade de nos desumanizarmos com a dor da vida; ou nossa incapacidade de lidar com a nossa humanidade tão singelamente expressa na certeza da morte.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Porque sonhar não pode parecer assim tão impossível

Hoje desejei que Deus, ou qualquer força divina deste Universo, arranque do meu peito este sentimento que ainda tenho por você. Você que já não habita mais esta vida e não habitará mais. Que este amor se transforme em qualquer outra coisa de menos bonita ou menos preponderante. E menos dilacerante. Que eu consiga ver interesse em outros seres viventes. Que o nosso amor não pareça a coisa mais plena que eu já vivi. E que jamais vou viver. Porque você não existe mais. Porque você não vai voltar. Porque dói muito a solidão da sua falta. Eu simplesmente quero te sobreviver com algum resquício de felicidade ainda.
Porque sonhar não pode parecer assim tão impossível.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Não quero ser refém das minhas dores

Tenho buscado sorrir, cantar e dizer bom dia, mesmo quando a vida tem tido tão pouco sentido. Decidi há algum tempo que não quero que a amargura se torne o tom da minha existência, apesar das não poucas dores da alma.
O sentido da vida não existe, pensei. Criamos nós. Mas não conseguia criá-lo nem como fantasia. Tentei no carnaval, com seu salvo conduto coletivo para a invenção de si. Buscando leveza, me fantasiei de Chaplin. Segurando uma plaquinha escrito "Sorri", como na música de sua autoria. Um imperativo para mim mesma. "Sorri, vai mentindo a tua dor...[que] todo mundo irá supor que és feliz." Pensava, quem sabe, como passe de mágica da fantasia, a suposição dos outros se tornaria realidade.
Seria feliz.
Singela ilusão. Doce. Mas iludida.
Não seria a fantasia do carnaval ou a carga de trabalho que criaria sentidos naturalmente. Ao menos ainda não.
E ao tentar ignorar a dor da alma, encenando qual palhaço a felicidade que não tinha, minha alma gritou. Gritou em dores físicas. Intensas. Sem diagnóstico. Corpo falhando. Puxando o tapete da minha ilusão. Deixando à mostra a poeira que bloqueia os canais da minha alma.
Cansada. Não, exausta.
Me deixa em paz. Me deixa encenar alegrias e sorrisos. Quero viver em paz. Mesmo que isso exija a fantasia de artista.
Não teve jeito. O corpo dói. A alma grita atenção através da dor do corpo. Tudo bem, alma. Vamos conversar.

"Por que o senhor pretende excluir de sua vida qualquer inquietude, qualquer dor, qualquer melancolia, sem saber o que essas circunstâncias realizam? Por que perseguir a si mesmo com estas perguntas: de onde pode vir tudo isso e para onde vai? No entanto, o senhor sabe que está em meio a transições e não desejaria nada mais do que se transformar. Se algum dos seus procedimentos for doentio, considere que a doença é um meio com o qual o organismo se liberta de corpos estranhos; por isso é apenas preciso ajudá-lo a estar doente, a assumir e ter sua doença por completo, pois é esse o seu curso natural." Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta.



"Sorri, quando a dor te torturar e a saudade atormentar os teus dias tristonhos, vazios
Sorri, quando tudo terminar, quando nada mais restar do teu sonho encantador
Sorri, quando o sol perder a luz e sentires uma cruz nos teus ombros cansados, doridos
Sorri, vai mentindo a tua dor, e ao notar que tu sorris, todo mundo irá supor que és feliz."

quinta-feira, 8 de março de 2012

Por quês?

Por quê?
Algumas perguntas nunca serão respondidas.
Algumas respostas nunca serão suficientes.
Você faz falta.
O mundo é pior porque você se foi.
E nenhuma explicação do mundo justifica esta ausência.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

quem poderá fazer aquele amor morrer?

Os clichês existem por uma razão. Ainda que sejam baseados em estereótipos que podem (e muitas vezes devem) ser quebrados, eles representam padrões de comportamento. Na arrogância dos meus 30 anos, sempre me julguei acima de qualquer clichê, buscando minha própria marca na vida. Posso até ter conseguido subverter expectativas sobre o que deveria querer e como deveria agir. Mas tenho que assumir minha humanidade.
Fiquei VIÚVA. Até hoje sempre usei esse termo de forma meio sarcástica. Acontece que me vi querendo adotar um gatinho de rua pra dar afeto, mudar pra Chapada Diamantina pra mergulhar em mim... fiz festão de 30 anos, bebi com afinco quase diário... falei sobre coisas íntimas com estranhos, na vida e num blog, outras vezes me fechei numa concha até dos amigos mais íntimos... me peguei cheirando a roupa do meu companheiro, falando sozinha como se ele estivesse aqui, fiquei com raiva dele... pedi demissão, reneguei a análise e voltei chorando... chorei em saguão de aeroporto, no chão do banheiro, em ônibus urbano, no show do Gil quando ele cantou Drão... aliás, onde é que não chorei nos últimos seis meses?
Sou um clichê ambulante. Ser viúva é foda pra caralho! Não é só a saudade que consome. Parece que tudo que sabíamos sobre a vida não se sustenta mais. Também por isso choro. Alma dilacerada em dúvidas banais e profundas, não sei mais no que acredito.

"Drão o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão nossa semeadura
Quem poderá fazer aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada pela estrada escura"

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Sonho

Tenho pensado que o oposto de morte é sonho.
Sonhar é desejar possibilidades, mesmo que elas não se concretizem nunca, é querer, ter vontade.
Morte é a impossibilidade mais veemente. O oposto de sonho. É um não absoluto que nem ciência nem religião podem transpor.
Sem sonho morremos um pouco a cada dia. Mas desejar o novo quando não existem mais os antigos sonhos é tarefa imensa. Duvido a cada dia. Mas quero ter fé. Quero querer.
Antes de morrer, meu companheiro me disse que tinha medo de nunca mais acreditar no amor. Sem esse sonho, ficou impossível viver.
Sete bilhões de pessoas no planeta e o fim da existência de uma delas, tornou tudo bem menos interessante. Amor é sonho. Sonho é o oposto de morte. Vida.